8.9.09

A VIDA BATE

A vida bate
Ferreira Gullar



Não se trata do poema do homem

e sua vida

- a mentida, a ferida, a consentida

vida já ganha e já perdida e ganha

outra vez.



Não se trata do poema e sim da fome

de vida,

o sôfrego pulsar entre constelações

e embrulhos, entre engulhos.



Alguns viajam, vão

a Nova York, a Santiago

do Chile. Outros ficam

mesmo na Rua de Alfândega, detrás

de balcões e guichês.



Todos te buscam, facho

de vida, escuro e claro,

que é mais que a água na grama

que o banho no mar, que o beijo

na boca, mais

que a paixão na cama.



Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns

te acham e te perdem.

Outros te acham e não te reconhecem

e há os que se perdem por te achar,

ó desatino,

ó verdade, ó fome

de vida!



O amor é difícil

mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.



E estamos na cidade

sob as nuvens e entre as águas azuis.

A cidade. Vista do alto

ela é fabril e imaginária, se entrega inteira

como se estivesse pronta.



Vista do alto,

com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade

é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém.



Mas vista

de perto,

revela seu túrbido presente, sua

carnadura de pânico: as

pessoas que vão e vêm

que entram e saem, que passam

sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro

sangue urbano

movido a juros.



São pessoas que passam sem falar

e estão cheias de vozes

e ruínas. És Antônio?

És Francisco? És Mariana?



Onde escondeste o verde

clarão dos dias? Onde

escondeste a vida

que em teu olhar se apaga mal se acende?

E passamos

carregados de flores sufocadas.



Mas dentro, no coração

eu sei,

a vida bate, Subterraneamente,

a vida bate.



Em Caracas, no Harlem, em Nova Dellhi,

sob as penas da lei,

em teu pulso,

a vida bate.



E é essa clandestina esperança

misturada ao sal do mar

que me sustenta

esta tarde

debruçada à janela de meu quarto em Ipanema

na América Latina.







© Ferreira Gullar - A Vida Bate, 1999

3 comments:

Unknown said...

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Rafael Mantovani said...

que bonito esse poema, não conhecia :-)

Aids - que tema é esse? said...

é bom