6.3.09

PEQUENAS HISTÓRIAS

O tempo não parou quando ela queimou a língua com o café quente que escorria dentro das amígdalas fazendo na irritar se com o telefone que tocava. Do seu apartamento via o mar e isso não significava absolutamente nada. O reflexo da colher mostrou um ser um pouco mais gordo, distorcido. Contentou-se. Aquela superfície metálica guardava a percepção única de quem era ela. Praticamente um segredo.


Vagou pela estação. Sentou em um acento gorduroso e sentiu inveja dos indigentes.
O ir e vir, para eles, era o estar que ela buscava. Entrou em um vagão no sentido contrário do usual e foi até o final da linha. Desceu enfadada com excesso de histórias contidas nos olhares dos passageiros. Não derramou uma lágrima. Deixou o paralelepípedo arrancar seu salto esquerdo
que já estava quebrado, deixou o pé deslizar entre uma pedra e outra. Achou a casa da fotografia. Não bateu. A porta poderia estar entre aberta, mas não estava. Ergueu o corpo com uma força que não lhe era usual até o parapeito da janela. Barulho de televisão, cheiro de sofá e gente pobre. ( Podre, como ela definiria) Invadiu. Olhou com desprezo o guarda-roupa.passando pelo banheiro viu seu reflexo no espelho de moldura laranja barata enfeitado com uma carta de baralho que a dama de copas era uma mulher nua de um vulgar quase ingênuo de tão antigo. O primeiro sinal foi o ronco cadenciado a sua direita. Estava deitado, o sono pesado, a tigela com restos de arroz e feijão e ovo no ir e vir da barriga descoberta.
Ele acordou com o salto dela em sua boca. Regurgitou. Sufocado tentou mover os braços. Estavam presos. Morreu com gosto de ovo e asfalto na boca.
M.DVOREK a la Dalton Trevisan...2009
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